sábado, 26 de abril de 2014

Processamento Textual

Olá gente! Agora que já vimos direitinho toda a fase da Teoria do Texto e o que ela representa, poderemos apresentar então algumas das principais categorias teóricas de análise relacionadas à organização estrutural, às estratégias de processamento e funcionamento e ao contexto interacional. 
No post de hoje eu estarei abordando somente o tema: Processamento Textual. Let's go!

Processamento textual

O texto deve ser entendido como um processo. O processamento textual acontece através de sistemas de conhecimento acionados no texto e no contexto de produção. Na produção textual, toda ação (fazer) é necessariamente acompanhada de processos de ordem cognitiva, de maneira que o sujeito dispõe de modelos e tipos de operações mentais. Os interlocutores, na comunicação, dispõem de saberes acumulados sobre os diversos tipos de atividades da vida social, eles têm conhecimentos na memória que precisam ser ativados para que a atividade seja efetivada com sucesso. Tais atividades geram expectativas e isso compõem um projeto nas atividades de compreensão e produção do texto.   

Considerando o texto como um processo, Wolfgang Heinemann e Dieter Viehweger definem três grandes sistemas de conhecimento, responsáveis pelo processamento textual:


Conhecimento Linguístico


Diz respeito ao conhecimento do léxico e da gramática, responsável pela escolha dos termos e pela organização do material linguístico na superfície textual, inclusive dos elementos coesivos.  

Conhecimento Enciclopédico ou de Mundo

Corresponde às informações armazenadas na memória de cada sujeito. O conhecimento do mundo abrange o conhecimento declarativo, manifestado por enunciações acerca dos fatos do mundo.

Por exemplo:

A Ponta dos Seixas, na Paraíba, é o extremo leste do continente americano.
São Paulo é a cidade mais populosa do Brasil.
Não dá para fritar um ovo sem quebrar a casca.

Conhecimento Interacional

Compreende dimensão interpessoal da linguagem, ou seja, com a realização de certas ações por meio da linguagem. Divide-se em:

  1. Conhecimento Ilocucional: meios diretos e indiretos para se atingir um objetivo; consiste em perceber as reais intenções do autor, as entrelinhas, o que o autor, às vezes, diz sem dizer.
  2. Conhecimento Comunicacional: meios adequados para atingir os abjetivos desejados.
  3. Conhecimento Metacomunicativo: meios de prevenir e evitar distúrbios na comunicação - atenuação, paráfrases, parênteses de esclarecimentos, etc.
  4. Conhecimento Superestrutural: modelos textuais globais que permitem aos usuários reconhecer um texto como pertencente a determinado do gênero ou certos esquemas cognitivos.
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Tais formas de conhecimento são estruturadas em modelos cognitivos. Nessa média, os conceitos são organizados em blocos, formando uma rede de relações, de forma que um dado conceito sempre adiciona uma série de entidades. É o caso da eleição, à qual se associam: políticos, eleitores, corrupção, CPI, leis, senado, dinheiro e hoje em dia até cuecas! É por causa dessa estruturação que o conhecimento enciclopédico transforma-se em conhecimento procedimental e fornece instruções para agir em situações particular e em situações específicas.

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Bom pessoal, essa é explicação sobre Processamento Textual, no próximo post daremos continuidade ao assunto. E aí o que acharam sobre as formas de conhecimento? Não deixem de comentar.

That's all folks!

Abraços apertados,
Ge Toledo




Definições de Texto

Olá a todos! O post de hoje vai dar uma continuidade de leve no post que eu escrevi na semana passada, porém hoje estarei colocando aqui algumas definições de texto por alguns "Pais da Linguística". Só para o entendimento ficar completo e a gente fechar a fase da Teoria do Texto com chave de ouro. :)

Separei então três definições de texto de diferentes autores (que são exponenciais nesse momento da Linguística Textual), mas que devem ser tomadas em sua complementaridade entre si, uma vez que não deve haver apenas umas definição engessada em si mesma para definir o texto.

Mikhail Bakhtin


"Na realidade, toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo fato de que  procede de alguém, como pelo fato de que se dirige para alguém. Ela constitui justamente o produto da interpretação do locutor e do ouvinte. Toda palavra serve de expressão a um em relação ao outro. Através da palavra, defino-me em relação ao outro, isto é, em última análise, em relação à coletividade. A palavra é uma espécia de ponte lançada entre mim e os outros. Se ela se apoia sobre mim numa extremidade, na outra se apoia sobre meu interlocutor. A palavra é o território comum locutor e do interlocutor".

Ingedore Koch

"Poder-se-ia ,assim, conceituar o texto, como uma manifestação verbal constituída de elementos linguísticos selecionados e ordenados pelos falantes durante a atividade verbal, de modo a permitir aos parceiros , na interação, não apenas a depreensão de conteúdos semânticos, em decorrência da ativação de processos e estratégias de ordem cognitiva, como também a interação (ou atuação) de acordo com práticas sócio-culturais". 

Luiz Antonio Marcuschi


"Proponho que se veja a Linguística do Texto, mesmo que provisória e genericamente, como o estudo das operações linguísticas e cognitivas reguladoras e controladoras da produção, construção, funcionamento e recepção de textos escritos ou orais.Seu tema abrange a coesão superficial ao nível dos constituintes linguísticos, a coerência conceitual ao nível semântico e cognitivo e o sistema de pressuposições e implicações ao nível pragmático da produção do sentido no plano das ações e intenções. Em suma, a Linguística Textual trata o texto como um ato de comunicação unificado num complexo universo de ações humanas. Por um lado, deve preservar organização linear que é o tratamento estritamente linguístico, abordado no aspecto da coesão e, por outro lado, deve considerar a organização reticulada ou tentacular, não linear: portanto, dos níveis do sentido e intenções que realizam a coerência no aspecto semântico e funções pragmáticas".    

Percebemos então que o texto pode ser definido mais simplificadamente como toda forma de haver uma interação entre locutor e interlocutor, autor e leitor.

Bom pessoal, é isso. Essas são as partes que separei para vocês assim como visto em sala de aula. Então... Gostaram dos autores e de suas definições? Comentem aí!

Abraços apertados,
Ge Toledo

Análise da Conversação

O empreendimento da AC, uma vez que se preocupa com (entre outras coisas) a 
análise detalhada de como a fala-em-interação é conduzida como uma atividade por 
si só e como instrumento para o completo arranjo da prática e ação social, está então 
dirigido a um dos temas clássicos da sociologia, embora, certamente, de maneira 
distinta (SCHEGLOFF, 1991: 47)


A Análise da Conversa advém de uma vertente da Sociologia, a chamada 
etnometodologia, inaugurada na obra Studies in Ethnomethodology, que foi publicada na 
década de 1960 por Harold Garfinkel. A publicação contesta os então tradicionais métodos 
utilizados pela sociologia para investigar a organização da sociedade e provoca a mudança de 
“um paradigma normativo para um paradigma interpretativo” (COULON, 1995: 10). Uma das 
principais contribuições da etnometodologia reside no fato de podermos nos valer do olhar 
dos participantes para entender o que eles estão fazendo. As suas interações e o modo como 
eles tratam as suas ações e as ações dos outros são o foco de análise dos etnometodólogos. 
Coulon (1995: 26) relata que depois de algum tempo, 
a etnometodologia começa a cindir-se em dois grupos: o dos analistas da 
conversação que tentam descobrir em nossas conversas as reconstruções contextuais 
que permitem lhes dar um sentido e dar-lhes continuidade; e o dos sociólogos para 
os quais as fronteiras reconhecidas de sua disciplina se acham circunscritas aos 
objetos mais tradicionais que a sociologia estuda, como a educação, a justiça, as 
organizações, as administrações, a ciência. 

Dito de outro modo, se os métodos tradicionais da Sociologia trabalham com 
conceitos apriorísticos em relação a classes sociais, grupos étnicos, gêneros, poder, dentre 
outros, os etnometodólogos investigam como, nos eventos de fala-em-interação, as pessoas se 
organizam de forma a constituir essas identidades (e relações) de maneira que elas sejam 
relevantes socialmente em contextos situados. A AC pode ser entendida, então, como o 
aparato metodológico através do qual essa investigação é passível de ser realizada. 
O sociólogo Harvey Sacks foi o primeiro a vislumbrar todas as possibilidades 
analíticas a partir da investigação de um evento tão mundano e corriqueiro: a conversa. Ao analisar trechos de gravações de pessoas que ligavam para um centro de apoio a suicidas em  potencial, Sacks descreveu, juntamente com seu então colega Garfinkel, os métodos que as  pessoas comuns utilizam para realizar ações no mundo através da fala-em-interação. 
Os estudos de Harvey Sacks foram interrompidos por sua morte prematura, em 1975, mas suas 
aulas foram transformadas em uma obra chamada Lectures in Conversation, organizada por 
Gail Jefferson e com texto introdutório de Emanuel Schegloff, que funda os pilares da 
abordagem analítica conhecida como AC. Na verdade, foi principalmente pelo empenho de 
Jefferson e de Schegloff que as propostas de Sacks foram perpetuadas. 
Um ano antes da morte de Sacks, em 1974, Schegloff e Jefferson juntamente com seu 
mestre, publicaram o artigo A simplest systematics for the organization of turn-taking for 
conversation, cujo objetivo principal era demonstrar que a conversa não é uma ação tão 
caótica quanto parece e que as pessoas se organizam socialmente através da fala. 

Dentre as observações feitas pelos autores, estão: 

(1) A troca de falante se repete, ou pelo menos ocorre. 
(2) Na grande maioria dos casos, fala um de cada vez. 
(3) Ocorrências de mais de um falante por vez são comuns, mas breves. 
(4) Transições (de um turno para o próximo) sem intervalos e sem sobreposições são 
comuns. Junto com as transições caracterizadas por breves intervalos ou ligeiras 
sobreposições, elas perfazem a grande maioria das transições. 
(5) A ordem dos turnos não é fixa, mas variável. 
(6) O tamanho dos turnos não é fixo, mas variável. 
(7) A extensão da conversa não é previamente especificada. 
(8) O que cada um diz não é previamente especificado. 
(9) A distribuição relativa dos turnos não é previamente especificada. 
(10) O número de participantes pode variar (SACKS; SCHEGLOFF; JEFFERSON, 
2003/1974). 

Vale lembrar que os autores se basearam em conversas mundanas e que essas 
observações não são, em absoluto, regras de caráter prescritivo, mas justamente descrições 
dos métodos que os interagentes utilizam para organizar suas interações. Elas apontam para o 
fato de que os interagentes geralmente se orientam para esses “mecanismos” para que uma 
interação ocorra, ainda que, enquanto interagentes, normalmente as pessoas nunca tenham. 

 Título que pode ser traduzido como “Uma simples sistemática para a organização da tomada de turnos na 
conversa”. ReVEL, vol. 7, n. 13, 2009 [www.revel.inf.br] 4
parado para pensar sobre isso. Como ressaltado pelos autores, essas mesmas regras podem ser 
aplicadas também em contextos institucionais como, por exemplo, em um júri, em uma sala 
de aula ou em uma consulta médica. Contudo, a fala-em-interação em contextos institucionais 
pode apresentar outras especificidades. Se compararmos, por exemplo, uma conversa 
mundana e uma entrevista, uma das observações mais óbvias que podemos fazer é que, 
diferentemente do que acontece na conversa mundana, na entrevista, os turnos de fala são pré-
alocados, ou seja, ao entrevistador cabe perguntar e ao entrevistado, responder. 



Bibliografia:
http://www.revel.inf.br/files/artigos/revel_13_analise_da_conversa.pdf



Gustavo Carvalho;*

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Estudos da Língua: um pouco mais sobre os ramos da linguística

Introdução sobre Linguística Estrutural

A Linguística Estrutural, proposta pelo filósofo e linguista Ferdinand Saussure na segunda metade do século XX, era um dos modos mais comuns de análise da língua, explorando as inter-relações através das quais o significado é produzido dentro de uma cultura. A partir da década de 60, foram notadas algumas falhas de análise da língua na Linguística Estrutural, como:

  • separação da língua e da fala;
  • preocupação com a frase e não com o texto;
  • exclusão da situação comunicativa;
  • abordagem superficial das questões de sentido e significado da linguagem;
  • exclusão das condições de produção da linguagem.
Para preencher tais lacunas outras teorias foram propostas, as quais serão explicadas abaixo.

A Sociolinguística

Disciplina linguística responsável por estudar os aspectos resultantes da relação língua/sociedade, focando na variabilidade social da língua. Assim, a sociolinguística tem como objetivo principal estudar a influência da sociedade na língua.
Podemos citar como exemplo a mudança no português falado em Lisboa após a grande imigração de origem africana. Também é possível observar que a língua muda de geração para geração e que palavras como "chato", "chatice" e "chatear", que na década de 60 eram consideradas de baixo calão, atualmente circulam em um nível corrente de linguagem.
A sociolinguística procura explicar também a formação de variantes de prestígio, como as designações de "português padrão" ou "português correto".

A Etnolinguística

Ramo da linguística que estuda a relação entre cultura e língua e tem como foco analisar a linguagem das comunidades indígenas e como ela está relacionada às peculiaridades da vida primitiva, suas crenças e folclores.
Os primeiros estudos etnolinguísticos datam do século XIX, quando os norte-americanos passaram a estudar alguns grupos tribais da região e suas respectivas línguas, com o objetivo de identificar sua organização e classificá-los linguística e etnicamente.
A etnolinguística não é uma disciplina isolada e autônoma, já que abrange domínios tanto da linguística quanto da antropologia. Ela se preocupa em analisar os relacionamentos entre a língua e a visão de mundo, bem como o contexto geográfico do fato linguístico.

A Psicolinguística

Estudo das conexões entre a linguagem e a mente. Analisa qualquer processo que diz respeito à comunicação humana mediante o uso da linguagem e as estruturas psicológicas que nos permitem compreender expressões, palavras, orações e textos em geral.
A psicolinguística relaciona-se com outras disciplinas como a ciência da linguagem, a neurologia, a neurobiologia, a psicologia e as ciências cognitivas. Ela é composta pelos seguintes domínios: aquisição da fala e compreensão da linguagem, percepção da fala, produção oral e escrita, leitura, distúrbios da linguagem e linguagem e pensamento.

A Neurolinguística

Ciência que estuda a elaboração central da linguagem e ocupa-se com os mecanismos do cérebro humano que suportam a compreensão, produção e conhecimento abstrato da língua. Trata da elaboração da linguagem normal e dos distúrbios clínicos que geram suas alterações.
Esse campo caminha na fronteira da linguística, da neurobiologia e da engenharia informática. O termo da neurolinguística tem sido associado com afasiologia, o estudo dos déficits linguísticos e sobre-capacidades, resultantes de formas específicas de danos cerebrais. 

A Pragmática

Ramo da língua que estuda a linguagem no contexto de seu uso na comunicação. As palavras assumem muitas vezes outros significados distintos no uso da língua e, mais recentemente, o campo de estudo da pragmática passou a englobar o estudo da linguagem comum e o uso concreto da linguagem. Ou seja, a pragmática avalia os significados linguísticos determinados não exclusivamente pela semântica, mas aqueles que se deduzem a partir de um contexto extra-linguístico.
A pragmática tem como meta ir além da construção da frase e estudar os objetivos da comunicação.

Análise da Conversação

A análise da conversação é o estudo da interação verbal e não verbal em situações cotidianas e procura descrever a forma de interações formais e informais. Inspirada pela etnometodologia, das pesquisas de Harold Garfinkel e Ervin Goffman, foi desenvolvida nos anos sessenta e setenta pelos linguistas Harvey Sacks, Emanel Schegloff e Gail Jefferson. Hoje é um método estabelecido usado em áreas como sociologia, antropologia, linguística e psicologia.

Análise do Discurso

Consiste em analisar a estrutura de um texto e, a partir disso, compreender as construções ideológicas presentes no mesmo. O discurso em si é uma construção linguística atrelada ao contexto social no qual está inserido. Ou seja, as ideologias presentes em um discurso são diretamente determinadas pelo contexto político-social em que vive seu autor. Mais que uma análise textual, a análise do discurso é uma análise contextual da estrutura discursiva em questão.
A partir da análise de todos os aspectos do discurso chega-se ao mais importante: o sentido. O sentido do discurso não é fixo e encontra-se sempre em aberto para a possibilidade de interpretação do receptor. O objetivo do discurso é transmitir uma mensagem e alcançar uma meta premeditada através da interpretação e interpelação do indivíduo alvo.

♔ Gi Pistoresi 

domingo, 20 de abril de 2014

Falácias

Se tornou comum ouvimos o termo falácia, seja em um debate político, seja em uma argumentação acadêmica ou até mesmo em vídeos no youtube. Mas você sabe o que significa este termo? Consegue identificar quando alguém usa uma falácia? Consegue perceber quando você utiliza termos falaciosos? Para te ajudar nessa questão, nós do Blog Marca Páginas fizemos uma seleção das falácias mais utilizadas portanto, se acomodem, fiquem confortáveis e vamos nessa.


Origem


O termo falácia deriva do verbo latino fallere, que significa enganar, Ilusão, sofisma. Designa-se por falácia um raciocínio errado com aparência de verdadeiro. Na lógica e na retórica, uma falácia é um argumento logicamente inconsistente, sem fundamento, inválido ou falho na tentativa de provar eficazmente o que alega. Argumentos que se destinam à persuasão podem parecer convincentes para grande parte do público apesar de conterem falácias, mas não deixam de ser falsos por causa disso.
Reconhecer as falácias é por vezes difícil. Os argumentos falaciosos podem ter validade emocional, íntima, psicológica, mas não validade lógica. É importante conhecer os tipos de falácia para evitar armadilhas lógicas na própria argumentação e para analisar a argumentação alheia. As falácias que são cometidas involuntariamente designam-se por paralogismo e as que são produzidas de forma a confundir alguém numa discussão designam-se por sofismas.
É importante observar que o simples fato de alguém cometer uma falácia não invalida toda a sua argumentação. Ninguém pode dizer: "Li um livro de Dawkins , mas ele cometeu uma falácia, então todo o seu pensamento deve estar errado". A falácia invalida imediatamente o argumento no qual ela ocorre, o que significa que só esse argumento específico será descartado da argumentação, mas pode haver outros argumentos que tenham sucesso. Por exemplo, se alguém diz:
"O fogo é quente e sei disso por dois motivos:
  1. ele é vermelho; e
  2. medi sua temperatura com um termômetro ".
Nesse exemplo, foi de fato comprovado que o fogo é quente por meio da premissa 2. A premissa 1 deve ser descartada como falaciosa, mas a argumentação não está de todo destruída. O básico de um argumento é que a conclusão deve decorrer das premissas. Se uma conclusão não é consequência das premissas, o argumento é inválido. Deve-se observar que um raciocínio pode incorrer em mais de um tipo de falácia, assim como que muitas delas são semelhantes.


Vamos a exemplos práticos de falácias:


1. Espantalho

Você desvirtuou um argumento para torná-lo mais fácil de atacar.

Ao exagerar, desvirtuar ou simplesmente inventar um argumento de alguém, fica bem mais fácil apresentar a sua posição como razoável ou válida. Este tipo de desonestidade não apenas prejudica o discurso racional, como também prejudica a própria posição de alguém que o usa, por colocar em questão a sua credibilidade – se você está disposto a desvirtuar negativamente o argumento do seu oponente, será que você também não desvirtuaria os seus positivamente?

Exemplo: Depois de Felipe dizer que o governo deveria investir mais em saúde e educação, Pedro respondeu dizendo estar surpreso que Felipe odeie tanto o Brasil, a ponto de querer deixar o nosso país completamente indefeso, sem verba militar.


2. Causa Falsa

Você supôs que uma relação real ou percebida entre duas coisas significa que uma é a causa da outra.

Uma variação dessa falácia é a “cum hoc ergo propter hoc” (com isto, logo por causa disto), na qual alguém supõe que, pelo fato de duas coisas estarem acontecendo juntas, uma é a causa da outra. Este erro consiste em ignorar a possibilidade de que possa haver uma causa em comum para ambas, ou, como mostrado no exemplo abaixo, que as duas coisas em questão não tenham absolutamente nenhuma relação de causa, e a sua aparente conexão é só uma coincidência.
Outra variação comum é a falácia “post hoc ergo propter hoc” (depois disto, logo por causa disto), na qual uma relação causal é presumida porque uma coisa acontece antes de outra coisa, logo, a segunda coisa só pode ter sido causada pela primeira.

Exemplo: Apontando para um gráfico metido a besta, Rogério mostra como as temperaturas têm aumentado nos últimos séculos, ao mesmo tempo em que o número de piratas têm caído; sendo assim, obviamente, os piratas é que ajudavam a resfriar as águas, e o aquecimento global é uma farsa.


3. Apelo à emoção

Você tentou manipular uma resposta emocional no lugar de um argumento válido ou convincente.

Apelos à emoção são relacionados a medo, inveja, ódio, pena, orgulho, entre outros.
É importante dizer que às vezes um argumento logicamente coerente pode inspirar emoção, ou ter um aspecto emocional, mas o problema e a falácia acontecem quando a emoção é usada no lugar de um argumento lógico. Ou, para tornar menos claro o fato de que não existe nenhuma relação racional e convincente para justificar a posição de alguém.
Exceto os sociopatas, todos são afetados pela emoção, por isso apelos à emoção são uma tática de argumentação muito comum e eficiente. Mas eles são falhos e desonestos, com tendência a deixar o oponente de alguém justificadamente emocional.

Exemplo: Lucas não queria comer o seu prato de cérebro de ovelha com fígado picado, mas seu pai o lembrou de todas as crianças famintas de algum país de terceiro mundo que não tinham a sorte de ter qualquer tipo de comida.
OBS: Este tipo de falácia foi muito empregada na Segunda Grande Guerra tanto pelo lado do Eixo quanto pelos Aliados, na tentativa de reforçar o patriotismo de seus cidadãos.
OBS²: Este tipo de falácia é muito empregado em discursos religiosos e de apologia à ideias consideradas tabus ou contra a lei.


4. A falácia da falácia

Supor que uma afirmação está necessariamente errada só porque ela não foi bem construída ou porque uma falácia foi cometida.

Há poucas coisas mais frustrantes do que ver alguém argumentar de maneira fraca alguma posição. Na maioria dos casos um debate é vencido pelo melhor debatedor, e não necessariamente pela pessoa com a posição mais correta. Se formos ser honestos e racionais, temos que ter em mente que só porque alguém cometeu um erro na sua defesa do argumento, isso não necessariamente significa que o argumento em si esteja errado.
Exemplo: Percebendo que Amanda cometeu uma falácia ao defender que devemos comer alimentos saudáveis porque eles são populares, Alice resolveu ignorar a posição de Amanda por completo e comer Whopper Duplo com Queijo no Burger King todos os dias.


5. Ladeira Escorregadia ou Declive Escorregadio

Você faz parecer que o fato de permitirmos que aconteça A fará com que aconteça Z, e por isso não podemos permitir A.

O problema com essa linha de raciocínio é que ela evita que se lide com a questão real, jogando a atenção em hipóteses extremas. Como não se apresenta nenhuma prova de que tais hipóteses extremas realmente ocorrerão, esta falácia toma a forma de um apelo à emoção do medo.
Exemplo: Armando afirma que, se permitirmos casamentos entre pessoas do mesmo sexo, logo veremos pessoas se casando com seus pais, seus carros e seus macacos Bonobo de estimação.


6. Ad hominem

Você ataca o caráter ou traços pessoais do seu oponente em vez de refutar o argumento dele.

Ataques ad hominem podem assumir a forma de golpes pessoais e diretos contra alguém, ou mais sutilmente jogar dúvida no seu caráter ou atributos pessoais. O resultado desejado de um ataquead hominem é prejudicar o oponente de alguém sem precisar de fato se engajar no argumento dele ou apresentar um próprio.

Exemplo: Depois de Salma apresentar de maneira eloquente e convincente uma possível reforma do sistema de cobrança do condomínio, Samuel pergunta aos presentes se eles deveriam mesmo acreditar em qualquer coisa dita por uma mulher que não é casada, já foi presa e, pra ser sincero, tem um cheiro meio estranho.



7. Tu quoque (você também)

Você evitar ter que se engajar em críticas virando as próprias críticas contra o acusador – você responde críticas com críticas.

Esta falácia, cuja tradução do latim é literalmente “você também”, é geralmente empregada como um mecanismo de defesa, por tirar a atenção do acusado ter que se defender e mudar o foco para o acusador.
A implicação é que, se o oponente de alguém também faz aquilo de que acusa o outro, ele é um hipócrita. Independente da veracidade da contra-acusação, o fato é que esta é efetivamente uma tática para evitar ter que reconhecer e responder a uma acusação contida em um argumento – ao devolver ao acusador, o acusado não precisa responder à acusação.

Exemplo: Nicole identificou que Ana cometeu uma falácia lógica, mas, em vez de retificar o seu argumento, Ana acusou Nicole de ter cometido uma falácia anteriormente no debate.

Exemplo 2: O político Aníbal Zé das Couves foi acusado pelo seu oponente de ter desviado dinheiro público na construção de um hospital. Aníbal não responde a acusação diretamente e devolve insinuando que seu oponente também já aprovou licitações irregulares em seu mandato.


8. Incredulidade pessoal

Você considera algo difícil de entender, ou não sabe como funciona, por isso você dá a entender que não seja verdade.

Assuntos complexos como evolução biológica através de seleção natural exigem alguma medida de entendimento sobre como elas funcionam antes que alguém possa entendê-los adequadamente; esta falácia é geralmente usada no lugar desse entendimento.

Exemplo: Henrique desenhou um peixe e um humano em um papel e, com desdém efusivo, perguntou a Ricardo se ele realmente pensava que nós somos babacas o bastante para acreditar que um peixe acabou evoluindo até a forma humana através de, sei lá, um monte de coisas aleatórias acontecendo com o passar dos tempos, demonstrando que Henrique não entende o que significa o termo “evolução biológica” pois ele considera que a evolução tem um ponto final (que segundo o ponto de vista dele seria o ser humano); demonstrando, também, falta de conhecimento dos mecanismo de como funciona a evolução, não entendendo que não é aleatoriedade e sim pressão natural.


9. Alegação especial

Você altera as regras ou abre uma exceção quando sua afirmação é exposta como falsa.

Humanos são criaturas engraçadas, com uma aversão boba a estarem errados.
Em vez de aproveitar os benefícios de poder mudar de ideia graças a um novo entendimento, muitos inventarão modos de se agarrar a velhas crenças. Uma das maneiras mais comuns que as pessoas fazem isso é pós-racionalizar um motivo explicando o porque aquilo no qual elas acreditavam ser verdade deve continuar sendo verdade.
É geralmente bem fácil encontrar um motivo para acreditar em algo que nos favorece, e é necessária uma boa dose de integridade e honestidade genuína consigo mesmo para examinar nossas próprias crenças e motivações sem cair na armadilha da auto-justificação.

Exemplo: Eduardo afirma ser vidente, mas quando as suas “habilidades” foram testadas em condições científicas apropriadas, elas magicamente desapareceram. Ele explicou, então, que elas só funcionam para quem tem fé nelas.


10. Pergunta carregada

Você faz uma pergunta que tem uma afirmação embutida, de modo que ela não pode ser respondida sem uma certa admissão de culpa.

Falácias desse tipo são particularmente eficientes em descarrilar discussões racionais, graças à sua natureza inflamatória – o receptor da pergunta carregada é compelido a se justificar e pode parecer abalado ou na defensiva. Esta falácia não apenas é um apelo à emoção, mas também reformata a discussão de forma enganosa.

Exemplo: Graça e Helena estavam interessadas no mesmo homem. Um dia, enquanto ele estava sentado próximo suficiente a elas para ouvir, Graça pergunta em tom de acusação: “como anda a sua reabilitação das drogas, Helena?”


Por hoje é tudo pessoal.



Caio Redondo 

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Dica Cultural: vamos apreciar a nossa literatura!

Cultura e poesias de Cora Coralina e Adélia Prado! Não tem como não postar sobre, para deixar todos morrendo de vontade de ir para lá correndo assistir.

Cora e Adélia, Receita de Poesia Em Um Dedo de Prosa




Atrizes Sônia de Paula e Nica Bonfim fazem espetáculo gratuito, no Centro Cultural Correios, inspirado na vida e na obra das escritoras Cora Coralina e Adélia Prado. “Cora e Adélia Receita de Poesia em um Dedo de Prosa” busca estimular o gosto pela literatura entre os adultos, incluindo os de terceira idade. O novo projeto cultural oferece ao público a dramatização dos textos das poetisas Cora Coralina e Adélia Prado com interpretação das atrizes Sônia de Paula e Nica Bonfim.

Nos papeis de grandes amigas, as personagens encontram nas obras das duas poetisas motivos para fazerem um balanço de suas histórias, lembrando-se das passagens românticas, comoventes, alegres e divertidas. O real encontro se dá através dos textos: uma obra completa o pensamento de outra; um texto tem continuidade e resposta, na obra da outra artista.
Cora Coralina, goiana, mulher simples, doceira de profissão, tendo vivido longe dos grandes centros urbanos, alheia a modismos literários, produziu uma obra poética rica em motivos do cotidiano do interior brasileiro, em particular dos becos e ruas históricas de Goiás. Adélia Prado, mineira, também reúne em sua prosa e em sua poesia temas recorrentes da vida provinciana.
Esses encontros literários terão cinco apresentações, com tradução simultânea para pessoas com deficiência auditiva por uma intérprete de Libras. A pesquisa, a seleção dos poemas e o texto que intercala a dramatização das obras das duas poetisas ficaram a cargo do ator Jackson Costa. A direção é da atriz Rafaela Amado.

Próximos Encontros

São Paulo - 23, 24, 25, 26 e 27 de abril
Centro Cultural Correios São Paulo.
Av. São João s/n - Vale do Anhangabaú
de quarta a domingo, às 12h30
Classificação: Livre
Grátis

mais informações:

Eu já marquei na minha agenda! E você se interessou? Corre então porque é só até dia 27 de abril!

Abraços apertados,
Ge Toledo

Compreendendo textos...

Olá amantes da língua portuguesa! Hoje meu post vai falar um pouquinho sobre textos e sua compreensão, dessa forma ainda abordaremos um pouquinho sobre a fase da Teoria do Texto, meu post da semana passada. Minha professora passou em sala esses textos que eu vou colocar aqui - todos muito interessantes - e farei uma análise em cima deles pela visão da 3ª fase da linguística.


A Vaguidão Específica




Maria, ponha isso lá fora em qualquer parte.
- Junto com as outras?
- Não ponha com as outras, não. Senão pode vir alguém e querer fazer qualquer coisa com elas. Ponha no lugar do outro dia.
- Sim senhora. Olha, o homem está aí.
- Aquele de quando choveu?
- Não, o que a senhora foi lá e falou com ele no domingo.
- Que é que você disse a ele?
- Eu disse para ele continuar.
- Ele já começou?
- Acho que já. Eu disse que podia principiar por onde quisesse.
- É bom?
- Mais ou menos. O outro parece mais capaz.
- Você trouxe tudo para cima?
- Não senhora, só trouxe as coisas. O resto não trouxe porque a senhora recomendou para deixar até a véspera.
- Mas traga, traga. Na ocasião, nós descemos tudo de novo. É melhor senão atravanca a entrada e ele reclama como na outra noite.
- Está bem, vou ver como.


(Millôr Fernandes) 

Note que o problema de coesão caracterizado pela falta de referências no texto não chega a constituir, de forma alguma, falta de coerência no texto, que impossibilite a comunicação entre as interlocutoras dele, pois a proposta do autor é a de que a situacionalidade preenche as lacunas referencias entre as interlocutoras. Talvez para outros leitores, o texto não faça sentido nenhum, mas definitivamente as informações veiculadas por ele são suficientes para as interlocutoras dessa interação que possuem o conhecimento partilhado necessário à compreensão da sua suposta falta de referência entre si.

Ou seja, um texto pode fazer sentido para uns e para outros não! Considere ainda que, no texto em questão, autor não prioriza as informações de texto em si, cujas referências estão ausentes, mas especialmente o tom de humor em referir-se sarcasticamente a certas características apontadas como do universo feminino.

Para a fase da Teoria do Texto, o texto não pode ser entendido como uma estrutura pronta e acabada, um produto, mas como um processo com atividades globais de comunicação - planejamento, verbalização e construção.

Saiba mais...
Considerar o texto como um processo é considerar  seu funcionamento com atividades de planejamento, verbalização e construção a partir de aspectos:

  • Linguísticos (sintáticos, lexicais, etc);
  • Semânticos (conteúdo, coerência, significado, etc)
  • Pragmáticos (seu uso, situação comunicativa, contexto, etc)
E sem perder de vista a importante relação entre os sujeitos da produção textual: falante/ouvinte, autor/leitor.
O mesmo texto, inclusive, é passível de diferentes leituras num mesmo momento histórico ou se lido em épocas e contextos diferentes. Como exemplo disso podemos citar bem rapidamente as diferentes interpretações dos textos bíblicos que as pessoas fazem de um modo geral  ou para si próprias. A própria forma linguística da Lei abre "brechas" para distintas interpretações...

Ou ainda, um texto pode ser considerado moralmente impróprio, ou vulgar, ou acintoso aos valores sociais, familiares e religiosos etc e em outro momento/contexto pode ser considerado revolucionário, à frente de seu tempo, verdadeiro etc: os poemas de Gregório Matos (o poeta barroco conhecido como "Boca do Inferno") podem ser um bom exemplo disso:

 Epílogos (Juízo anatômico dos achaques que padecia o corpo da república)

Que falta nesta cidade?... Verdade.
Que mais por sua desonra?... Honra.
Falta mais que se lhe ponha?... Vergonha.

O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.

Quem a pôs neste rocrócio?... Negócio.
Quem causa tal perdição?... Ambição.
E no meio desta loucura?... Usura.

Notável desaventura
De um povo néscio e sandeu,
Que não sabe que perdeu
Negócio, ambição, usura.

Quais são seus doces objetos?... Pretos.
Tem outros bens mais maciços?... Mestiços.
Quais destes lhe são mais gratos?... Mulatos.

Dou ao Demo os insensatos,
Dou ao Demo o povo asnal,
Que estima por cabedal,
Pretos, mestiços, mulatos.

Quem faz os círios mesquinhos?... Meirinhos.
Quem faz as farinhas tardas?... Guardas.
Quem as tem nos aposentos?... Sargentos.

Os círios lá vem aos centos,
E a terra fica esfaimando,
Porque os vão atravessando
Meirinhos, guardas, sargentos.

E que justiça a resguarda?... Bastarda.
É grátis distribuída?... Vendida.
Que tem, que a todos assusta?... Injusta.

Valha-nos Deus, o que custa
O que El-Rei nos dá de graça.
Que anda a Justiça na praça
Bastarda, vendida, injusta.

Que vai pela clerezia?... Simonia.
E pelos membros da Igreja?... Inveja.
Cuidei que mais se lhe punha?... Unha

Sazonada caramunha,
Enfim, que na Santa Sé
O que mais se pratica é
Simonia, inveja e unha.

E nos frades há manqueiras?... Freiras.
Em que ocupam os serões?... Sermões.
Não se ocupam em disputas?... Putas.

Com palavras dissolutas
Me concluo na verdade,
Que as lidas todas de um frade
São freiras, sermões e putas.

O açúcar já acabou?... Baixou.
E o dinheiro se extinguiu?... Subiu.
Logo já convalesceu?... Morreu.

À Bahia aconteceu
O que a um doente acontece:
Cai na cama, e o mal cresce,
Baixou, subiu, morreu.

A Câmara não acode?... Não pode.
Pois não tem todo o poder?... Não quer.
É que o Governo a convence?... Não vence.

Quem haverá que tal pense,
Que uma câmara tão nobre,
Por ver-se mísera e pobre,
Não pode, não quer, não vence.

(Gregório de Matos)

Por outro lado, um texto que pode ter sido considerado poético , verdadeiro e bonito em dado momento histórico, pode hoje ser motivo de piada e referência de preconceito e opressão: por exemplo, a música "Ai, que saudades da Amélia", de Ataulfo Alves e Mário Lago, de 1941, sobretudo em sua segunda estrofe que hoje faz-nos considerar "Amélia" um adjetivo pejorativo quanto à caracterização da mulher moderna:

É isso aí pessoal! Espero que tenham gostado da minha explicação sobre alguns textos que eu vi em aula. E vocês o que acharam? Não deixem de comentar.

Abraços apertados,
Ge Toledo