sábado, 26 de abril de 2014

Análise da Conversação

O empreendimento da AC, uma vez que se preocupa com (entre outras coisas) a 
análise detalhada de como a fala-em-interação é conduzida como uma atividade por 
si só e como instrumento para o completo arranjo da prática e ação social, está então 
dirigido a um dos temas clássicos da sociologia, embora, certamente, de maneira 
distinta (SCHEGLOFF, 1991: 47)


A Análise da Conversa advém de uma vertente da Sociologia, a chamada 
etnometodologia, inaugurada na obra Studies in Ethnomethodology, que foi publicada na 
década de 1960 por Harold Garfinkel. A publicação contesta os então tradicionais métodos 
utilizados pela sociologia para investigar a organização da sociedade e provoca a mudança de 
“um paradigma normativo para um paradigma interpretativo” (COULON, 1995: 10). Uma das 
principais contribuições da etnometodologia reside no fato de podermos nos valer do olhar 
dos participantes para entender o que eles estão fazendo. As suas interações e o modo como 
eles tratam as suas ações e as ações dos outros são o foco de análise dos etnometodólogos. 
Coulon (1995: 26) relata que depois de algum tempo, 
a etnometodologia começa a cindir-se em dois grupos: o dos analistas da 
conversação que tentam descobrir em nossas conversas as reconstruções contextuais 
que permitem lhes dar um sentido e dar-lhes continuidade; e o dos sociólogos para 
os quais as fronteiras reconhecidas de sua disciplina se acham circunscritas aos 
objetos mais tradicionais que a sociologia estuda, como a educação, a justiça, as 
organizações, as administrações, a ciência. 

Dito de outro modo, se os métodos tradicionais da Sociologia trabalham com 
conceitos apriorísticos em relação a classes sociais, grupos étnicos, gêneros, poder, dentre 
outros, os etnometodólogos investigam como, nos eventos de fala-em-interação, as pessoas se 
organizam de forma a constituir essas identidades (e relações) de maneira que elas sejam 
relevantes socialmente em contextos situados. A AC pode ser entendida, então, como o 
aparato metodológico através do qual essa investigação é passível de ser realizada. 
O sociólogo Harvey Sacks foi o primeiro a vislumbrar todas as possibilidades 
analíticas a partir da investigação de um evento tão mundano e corriqueiro: a conversa. Ao analisar trechos de gravações de pessoas que ligavam para um centro de apoio a suicidas em  potencial, Sacks descreveu, juntamente com seu então colega Garfinkel, os métodos que as  pessoas comuns utilizam para realizar ações no mundo através da fala-em-interação. 
Os estudos de Harvey Sacks foram interrompidos por sua morte prematura, em 1975, mas suas 
aulas foram transformadas em uma obra chamada Lectures in Conversation, organizada por 
Gail Jefferson e com texto introdutório de Emanuel Schegloff, que funda os pilares da 
abordagem analítica conhecida como AC. Na verdade, foi principalmente pelo empenho de 
Jefferson e de Schegloff que as propostas de Sacks foram perpetuadas. 
Um ano antes da morte de Sacks, em 1974, Schegloff e Jefferson juntamente com seu 
mestre, publicaram o artigo A simplest systematics for the organization of turn-taking for 
conversation, cujo objetivo principal era demonstrar que a conversa não é uma ação tão 
caótica quanto parece e que as pessoas se organizam socialmente através da fala. 

Dentre as observações feitas pelos autores, estão: 

(1) A troca de falante se repete, ou pelo menos ocorre. 
(2) Na grande maioria dos casos, fala um de cada vez. 
(3) Ocorrências de mais de um falante por vez são comuns, mas breves. 
(4) Transições (de um turno para o próximo) sem intervalos e sem sobreposições são 
comuns. Junto com as transições caracterizadas por breves intervalos ou ligeiras 
sobreposições, elas perfazem a grande maioria das transições. 
(5) A ordem dos turnos não é fixa, mas variável. 
(6) O tamanho dos turnos não é fixo, mas variável. 
(7) A extensão da conversa não é previamente especificada. 
(8) O que cada um diz não é previamente especificado. 
(9) A distribuição relativa dos turnos não é previamente especificada. 
(10) O número de participantes pode variar (SACKS; SCHEGLOFF; JEFFERSON, 
2003/1974). 

Vale lembrar que os autores se basearam em conversas mundanas e que essas 
observações não são, em absoluto, regras de caráter prescritivo, mas justamente descrições 
dos métodos que os interagentes utilizam para organizar suas interações. Elas apontam para o 
fato de que os interagentes geralmente se orientam para esses “mecanismos” para que uma 
interação ocorra, ainda que, enquanto interagentes, normalmente as pessoas nunca tenham. 

 Título que pode ser traduzido como “Uma simples sistemática para a organização da tomada de turnos na 
conversa”. ReVEL, vol. 7, n. 13, 2009 [www.revel.inf.br] 4
parado para pensar sobre isso. Como ressaltado pelos autores, essas mesmas regras podem ser 
aplicadas também em contextos institucionais como, por exemplo, em um júri, em uma sala 
de aula ou em uma consulta médica. Contudo, a fala-em-interação em contextos institucionais 
pode apresentar outras especificidades. Se compararmos, por exemplo, uma conversa 
mundana e uma entrevista, uma das observações mais óbvias que podemos fazer é que, 
diferentemente do que acontece na conversa mundana, na entrevista, os turnos de fala são pré-
alocados, ou seja, ao entrevistador cabe perguntar e ao entrevistado, responder. 



Bibliografia:
http://www.revel.inf.br/files/artigos/revel_13_analise_da_conversa.pdf



Gustavo Carvalho;*

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